e como somos todos um pouco loucos
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deixo-vos aqui um texto, que o M. me enviou, sobre a loucura, que eu acho FABULOSO!
O Louco
Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente a gritar: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para o vêr. O sol beijou pela primeira vez a minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava a minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais as minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram as minhas máscaras!”
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança na minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.
Gibran Khalil Gibran
(1883-1931)